quinta-feira, 30 de junho de 2011

o que eu quero versus o que eu preciso

Renata publicou o link de um texto muito legal da jornalista Téta Barbosa. De uma forma simples, sucinta e extremamente descontraída, Téta faz uma reflexão muito profunda sobre a vida, prioridades, consumismo e status quo.

O texto da Téta tem muito a ver com um filme ótimo a que assisti por acaso - só porque estava sem o que fazer num sábado à noite e o Telecine decidiu passar alguma coisa que presta (pra variar). O filme é Casa Comigo, com a fofa da Amy Adams de Julie & Julia, outro longa que adorei.

A história, aparentemente bobinha que muitos classificariam como mais uma comédia romântica mamão com açúcar, vai muito além dos modismos usais. Amy vive Anna, uma jovem decoradora bem-sucedida que namora há quatro anos um cardiologista respeitado e rico. Ela decora apartamentos para vender e ele vive por conta das complicadas cirurgias que lhe dão tanto prestígio.

Depois de quatro anos de namoro os dois decidem comprar juntos um apartamento maravilhoso, que diga-se de passagem é o sonho de consumo de qualquer pessoa que assiste ao filme. O problema é que o lugar é muito disputado em Boston e por isso os donos fazem uma longa entrevista com possíveis compradores (quase como entrevista de emprego mesmo) antes de decidir quem está apto a morar em um lugar tão nobre e tradicional.

Anna e o namorado sem sal, Jeremy, entram na disputa pelo local muito confiantes, afinal, como eles mesmo dizem: “Quem não gosta deles?”. No dia seguinte à entrevista, Jeremy viajará para um congresso na Irlanda e convida Anna para um jantar especial. Enquanto se arruma para o encontro Anna recebe a visita de uma “amiga” que afirma ter visto Jeremy sair de uma joalheria com uma caixinha que as duas presumem se tratar de um anel de noivado.

Anna tem uma terrível surpresa quando o namorado a presenteia com um par de brincos e ainda sai mais cedo do jantar porque aparentemente o hospital em que trabalha não pode funcionar sem ele. Muito desapontada ela vai pra casa e começa a pesquisar sobre uma tradição irlandesa na qual, em anos bissextos, as mulheres pedem os namorados em casamento no dia 29 de fevereiro. Para a sorte de Anna Jeremy está indo para a Irlanda em um ano bissexto nas vésperas do dia 29 de fevereiro, e apesar de achar a tradição ridícula, o desespero para se casar a motiva a voar para a Irlanda no dia seguinte.

Mas Anna enfrenta muitos problemas para chegar a Dublin – cidade em que Jeremy está- e acaba indo parar em um pacato vilarejo irlandês do qual o último trem para a capital partiu há mais de vinte anos. Em sua obstinação, Anna convence o dono da única pensão local, Déclan, a levá-la até a cidade, mas os percalços que os dois enfrentam durante o trajeto os aproxima de tal forma que muda a vida de Anna para sempre.

Além de ter uma ótima fotografia e uma trilha sonora muito gostosa de se ouvir, Casa Comigo incita uma reflexão profunda sobre como vivemos e pra onde caminhamos. Anna vivia e trabalhava para conseguir tudo o que queria, mas quando finalmente consegue, descobre que não é nada do que precisava. Depois de apenas dois dias viajando com um irlandês rude e pobretão ela descobriu o quão fútil e sem sentido sua vida se tornara.

E isso fala muito comigo porque tenho visto o consumismo tomar conta da vida de muita gente. Ele está a toda volta, entre os amigos queridos, nas novelas da globo, na igreja e fazendo morada em algumas áreas dentro de mim. Todos querem a casa dos sonhos, o carrão pra exibir para os amigos, as roupas de marca e os celulares de última geração. Mas tudo isso custa caro e assim como a Téta confessou, requer sacrifícios substanciais que poucos, bem poucos, se perguntam se vale mesmo a pena.

Outro filme que trata essa questão do consumismo de forma espetacular é Click. É o tipo de história que faz a gente querer sentar e chorar ao se deparar com a própria superficialidade levada às últimas conseqüências pelo personagem mesquinho de Adam Sandler. Amo cinema não só porque é uma delícia se deixar envolver pelas histórias, mas porque esse tipo de filme funciona como um letreiro luminoso que diz: PERIGO ADIANTE – dê meia volta, analise sua vida e reveja suas prioridades.

Sei que não estou fora do alcance do consumismo e é exatamente por isso que tenho refletido tanto a respeito ultimamente. É bem fácil não ser consumista quando se é universitário quebrado, mas quando o poder aquisitivo dagente aumenta um pouco, aí é que a coisa fica feia. E é por acreditar que minhas prioridades devem ser definidas antes do meu poder aquisitivo aumentar que tenho pensado tanto no que eu realmente preciso.

É bem difícil, até porque a publicidade e o capEtalismo estão aí pra evitar essas reflexões. Mas filmes como Casa Comigo e Click mostram que tem muita gente pensando nessas mesmas coisas e que ainda existe esperança.

Nenhum comentário: