Inauguro a ideia com as ressonâncias de um texto que me tocou profundamente, escrito pela admirável Eliane Brum.
"É também a capacidade de imaginar um mapa, de fora e de dentro, que nos define, já que a primeira cartografia de cada um é o corpo. Depois, a casa onde evoluímos em nossa geografia íntima. É triste que os mapas de nossas vidas estejam cada vez mais restritos, mais tacanhos, cheios de barreiras e de senhas, ao refletir esse mundo que vai se apequenando pelo medo do mundo de quase todos os outros. Cada vez mais nosso mapa inclui menos gente, restrito aos interesses territoriais da família ou nem isso, e acaba na porta da rua. Os muros que erguemos internamente deveriam nos escandalizar tanto quanto aqueles que separavam – e separam – os povos no embate da história. Os muitos muros fincados na forma de vidros escuros, portas gradeadas, cercas eletrificadas, as concretas e as subjetivas, são um aviso também de que não reconhecemos todos os outros como parte do nosso mapa. E de que para nós é mais natural desejar um pequeno lago individual que um rio que mata a sede de muitas aldeias. Ao contrário das crianças das favelas de Calcutá, temos sido maus construtores de pontes".
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