segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Onde repousa a nossa Esperança

Oi, filho,

Um dia enquanto tomávamos banho de chuveiro eu deixei você escorregar levemente. Foram alguns milésimos de segundo em que você deslizou um pouco pra baixo, mas foi tempo suficiente pra assustar a mim e a você, que começou a chorar muito. Depois desse dia demorei a tomar banho de chuveiro com você de novo. A possibilidade de te deixar escorregar me aterrorizou por um tempo.

Um dos maiores temores que enfrento diariamente desde que me tornei mãe é o de não conseguir zelar pela sua integridade física, emocional e espiritual. Minha oração de todos os dias é que eu seja uma mãe diligente e cuidadosa e nunca, NUNCA, negligencie os cuidados com a sua vida, que é o bem mais precioso que já me foi confiado.

Imagino que esse anseio por zelar pela vida dos filhos não seja só meu. Todos os pais e mães deste mundo vivenciam isso todos os dias. Mas, infelizmente, nem todos contam com condições de vida favoráveis ao crescimento e desenvolvimento saudável dos filhos. Vivemos hoje em um mundo marcado por conflitos, pobreza, fome, guerras e taxas de violências altíssimas que acometem alguns países que mesmo não estando em guerra exibem índices de homicídios mais altos do que países que atravessam conflitos armados (é o caso dos índices de homicídios em algumas regiões do Brasil, por exemplo).

Sempre que penso nisso, fico imaginando como é ser mãe em um desses lugares. E nem é preciso imaginar muito longe, já que alguns bairros da nossa cidade exibem taxas altíssimas de criminalidade, o que deixa a tarefa de ser mãe e pai extremamente pesada e aflitiva.

Semana passada fomos bombardeados por notícias avassaladoras acerca da crise migratória atual. Vivemos um momento crítico, já que, desde a Segunda Guerra Mundial não se via um movimento migratório tão grande. As principais causas: guerras, conflitos internos e fome.

Dentre as notícias envolvendo os refugiados uma história chamou a atenção. Ou melhor, uma imagem. O corpo inerte de um garoto sírio de apenas 3 aninhos em uma praia da Turquia foi fotografado e divulgado em ampla escala. Quando vi aquela foto pensei a mesma coisa que pensam todos os pais, mães, tios, tias, avôs, avós ao se depararem com este tipo de tragédia: "E se fosse meu filho/ neto/ sobrinho?".

Você dormia confortavelmente no berço enquanto eu me debulhava em lágrimas pelo luto daquela família. Mais tarde descobri que a família se reduzira à um único membro: o pai, o único sobrevivente de uma tragédia que teve início em sua terra natal e obrigou milhões de outras famílias a empreenderem fugas tão ou mais perigosas na tentativa de preservar o que sobrou de suas vidas, marcadas pelo trauma, pelos abusos, pelo medo e pela violência.

Aquele pobre homem enlutado relatou aos jornais que seus filhos escorregaram de suas mãos quando o bote em que estavam virou. Sua esposa também perdeu a vida naquela jornada tortuosa. Sobrou pra ele a tarefa de enterrar seus queridos.

Fico pensando em quão extrema era a situação de sua família para forçar aquele homem a arriscar a vida dos filhos em uma embarcação tão instável. Fugir do Estado Islâmico e dos terrores da guerra na Síria se tornou crucial para a sobrevivência. Mas se eles escaparam disso com vida, encontraram a morte um pouco adiante de forma tão vil.

Que mundo é esse em que vivemos, filho?  Como prosseguir com esperança diante de tragédias como esta? Como reagir diante de uma dor que está tão distante e, ao mesmo tempo, tão perto? Que é tão alheia e também tão nossa?

É somente no Crucificado que podemos colocar nossa esperança. Pois ao olharmos para a Cruz é impossível nos deparar com um Deus distante ou indiferente. A resposta para o sofrimento humano não nos foi dada, mas somos amparados pela certeza de um Deus que sofre conosco e por nós e que prometeu que um dia colocará fim em todas as nossas mazelas.

Que nossas vidas sejam canções de adoração à este Deus, filho, e que nossas mãos, pés, corpo, alma e coração sejam instrumentos Dele para abençoar muitos. Oremos por todos os refugiados do Oriente Médio, em especial pelas crianças, que já ultrapassam 100 mil. Se os horrores vividos por elas são inimagináveis, eles não se comparam às promessas de restauração e cura feitas por um Deus extremamente amoroso à todos aqueles que choram. Que nossas vidas reflitam esse amor, filho.

2 comentários:

Unknown disse...

É amiga, infelizmente este mundo em que vivemos hoje nos deixa a cad a dia mais chocadas com as atrocidades que o homem é capaz de cometer contra seus semelhantes, mas é o mundo em que nosso Pedro vai viver, muito mais tempo que a gente. O seu papel de cuidar e proteger tenho certeza que faz como ninguém, ele é um desses poucos sortudos que nascem em uma casa cheia de amor e fé; com essas bases ele vai crescer seguro e se tornar uma pessoa maravilhosa como a mãe. Espero viver ainda para ver tempos de maior paz e humanidade

Unknown disse...

Como sempre, vc arrasa nos seus posts né florzinha!!!! Amém pra tudo que você disse!Estar aqui tão perto dessas pessoas me deixa com uma sensação de impotência sabe. A necessidade é tão grande que tudo que a gente pensa em fazer parece pouco...Oremos para que nossos pequenos sejam parte da mudança que o Reino pode trazer às pessoas! bjokas querida do meu coração!