Tudo começa com duas listras rosas. No momento em que você as enxerga, sabe que sua vida vai sofrer uma reviravolta sem precedentes, e sem retornos. Numa fração de segundos milhares de pensamentos cruzam a sua mente e seu corpo recebe o impacto de toda aquela adrenalina.
Palpitação, náusea, taquicardia, pernas trêmulas... Alguns pensamentos chegam a ser catastróficos: "será que minha vida acabou?", "nunca mais vou dormir direito?", "vou ter uma carreira?", "nunca serei uma boa mãe!", "e se meu filho (a) me odiar?", "serei eu responsável por traumatizar para sempre um ser humano?", etc, etc, etc.
Depois daqueles segundos que mais pareceram uma eternidade, você volta a si. Olha no espelho. Investiga sua barriga. Ainda nenhum sinal de que um novo ser humano está confortavelmente se instalando ali.
Mas dentro de você alguma coisa mudou.
O começo da gestação pode ser um período bem incômodo. Os hormônios te fazem sentir em uma TPM sem fim, as náuseas não dão sossego, e aquele sono que parece infinito não te deixa produzir como antes.
Você se sente uma ameba. Sua produtividade não para de cair e sua energia parece ter te abandonado pra sempre.
Você se sente insegura no trabalho. Afinal, nunca foi tão desmotivada e improdutiva. De repente, até as coisas mínimas requerem um total uso de energia e você não sabe de onde tirar forças.
Tudo o que você quer é dormir.
Quando sucumbe a esse desejo, você dorme horas à fio. Ao se levantar, se sente como uma ameba. Marido trabalha daquele tanto e tudo o que você faz é dormir.
Mas se pudesse olhar por dentro do seu corpo veria que as coisas não são bem assim. O que era antes uma célula microscópica está agora tomando a forma de um embrião. E como ele cresce rápido! Seu corpo está formando a placenta que vai acomodar esse embrião pelos próximos meses. E como isso requer energia!
Talvez o fato de você se sentir tão cansada não seja tão ruim assim... a natureza é sábia e dá sinais de que é preciso diminuir o passo.
Nesse meio tempo, sua mente não para de trabalhar. E em meio ao turbilhão de pensamentos cotidianos, você agora tem uma nova preocupação, pois sabe que sua vida vai mudar.
Será que é sensato se punir por isso? Não seria melhor aproveitar o momento e tentar relaxar? Será que a produtividade no trabalho é o que define a sua identidade?
Ser mãe nunca foi fácil, mas para as mulheres que se aventuram nesta empreitada em pleno século XXI, as preocupações sobre a carreira podem se tornar um grande fardo. Dediquei anos de estudo árduo para um dia ser uma boa profissional e desde que engravidei, um dos meus principais receios é o de não conseguir conciliar maternidade e carreira.
Sinto medo de ficar fora do mercado por um tempo e nunca mais conseguir voltar. Também receio voltar ao trabalho cedo demais e ser negligente na criação do meu filho. Como equacionar tudo isso?
Não há uma receita de bolo e muitas mulheres conseguem voltar ao trabalho bem rápido depois de darem à luz. Outras abrem mão de suas carreiras para se dedicarem exclusivamente aos filhos. Ainda não sei qual será o meu caso, mas quero deixar a ansiedade de lado e viver plenamente esse momento que é único.
Sim, a gravidez tem muitos incômodos, mas é também um excelente período de reflexões sobre aquilo que está por vir. Quero viver tudo isso com paz de espírito e com a certeza de que a minha identidade não está no meu êxito profissional ou no tamanho da minha produtividade.
Por pura Graça do Autor da Vida um novo ser se forma dentro de mim e isso me ensina o quanto sou fraca e ao mesmo tempo forte.
Obrigada, pai, por escolher seres frágeis como nós para sermos seus cooperadores na formação de uma vida. Ensina-me o que preciso aprender e capacita-me para cuidar bem dessa vida que me foi confiada por Ti. Dá-me as forças que preciso para realizar as tarefas diárias e para concluir com excelência o meu mestrado. Mas livra-me de basear minha identidade nessas realizações. Que ela esteja somente em teu amor por mim. Em nome de Jesus, amém.
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