quarta-feira, 8 de abril de 2015

Diário de pós-parto - décimo segundo dia

Oi, filho,

Estou aproveitando sua soneca vespertina pra escrever este post, apesar de o meu cansaço também estar pedindo um cochilo. Todavia, não abandono a ideia de registrar as emoções do pós-parto porque acho que elas são preciosas demais, embora nem sempre agradáveis.

Desde que você completou 2 dias de vida comecei a sentir uma melancolia tão grande que cheguei a pensar que estava sofrendo de depressão pós-parto. E pode ser que em algum momento desse período sentimentos depressivos e opressores de fato tenham me engolfado. Agora, graças ao bom Deus, não sinto mais a névoa de escuridão que me envolveu nos seus primeiros dias, mas a melancolia continua aqui e acho que ela tem a ver com o puerpério.

Sempre que olho pra você sinto um misto de alegria e tristeza. Alegria pela sua vida, saúde, vitalidade e fofura. Tristeza pelo fato de que você nasceu em um mundo caído e corrompido pelo pecado, o que significa que você inevitavelmente vai experimentar o sofrimento e a dor. E como vida de recém-nascido não é nada fácil, você já começou a senti-lo por meio dos gases doídos que te acometem de vez em quando.

Quando olho pro seu rostinho tão perfeito e penso nas inúmeras dores pelas quais você vai ter de passar, sinto um aperto no peito que não se compara a nenhuma tristeza pela qual já tenha passado nessa vida. Se eu pudesse, te colocaria numa redoma de vidro pra que você nunca tivesse que passar por nenhuma dor ou sofreria todas elas no seu lugar.

Um dia li que ser mãe é ter para sempre o coração fora do peito. Acho que essa é a descrição mais precisa da maternidade.

Desde que você nasceu, tenho me sentido extremamente vulnerável e isso dói a ponto de eu pensar: "O que eu fui fazer com a minha vida?".  Mas como eu acredito na soberania de um Deus criador e pessoal, esse pensamento é logo dissipado pela certeza de que a sua vida jamais poderia ter sido planejada por mim, e sim confiada a mim em um ato de extrema bondade e graça Daquele que te criou.

Com isso em mente, sigo confiante de que Ele vai nos capacitar a cuidar bem de você. Mas nesses primeiros dias confesso que cada saída de casa com você à tira-colo me causa um enorme aperto no peito! Tenho a impressão de que você está extremamente desconfortável no bebê (des)conforto e o trânsito bárbaro da nossa cidade me faz pensar que um bebê tão pequeno e delicado tem que ficar sempre quietinho dentro de casa.

Ontem, enquanto esperávamos seu pai dentro do carro, vi um pai passeando com o filho pequeno na calçada e pensei se um dia eu teria tranquilidade para fazer o mesmo com você. No momento essa ideia me parece absurda. Mas creio que aos poucos Deus vai preparando meu coração pra isso também.

Uma coisa que tenho aprendido no puerpério é que é preciso viver um dia de cada vez. Se ontem eu me desesperava quando chegava a hora do seu banho de tanto medo que tinha de que alguém te deixasse cair, hoje até consigo tirar um cochilo enquanto seu pai faz isso com todo zelo e carinho.

O cansaço e a falta de vontade de fazer qualquer coisa (que não envolvam cuidar de você) também são bem característicos desses dias. Mas espero que aos poucos consigamos estabelecer uma rotina saudável e a energia e a vitalidade voltem com força total (embora nesse momento seja extremamente difícil acreditar nisso).

[pausa para atender seu choro - continua no próximo post]

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