terça-feira, 4 de junho de 2019

Pedro - 4 anos

Pedro,

Cinco anos atrás seu pai e eu vivíamos uma vida completamente diferente da que vivemos hoje. Tão diferente que eu mal consigo me lembrar do que fazíamos para preencher o tempo. Desde que você nasceu, nossos dias começam antes mesmo do sol nascer e são repletos de afazeres até o momento em que nos deitamos...

cada minutinho de cada dia.
não há tempo ocioso..
não há tédio...

Com a sua chegada fomos forçados a olhar para a vida de uma maneira nova. Nem sempre esse olhar trouxe alento porque dói sair da zona de conforto. Mudanças causam estresse e a sua chegada virou nossas vidas de cabeça para baixo. Aliás, acho que nunca me senti plenamente adulta antes de me tornar mãe. Com um bebê nos braços eu me sentia como uma criança assustada. Queria colo quando outro ser exigia o meu. Queria conforto quando precisava ser fonte de conforto para outra pessoa.

Talvez por isso tenha demorado tanto a me recompor depois que você nasceu. Aliás, recompor é a palavra errada. No puerpério eu sentia como se tivesse sido partida em caquinhos. Mas ao juntar os cacos, percebi que muita coisa ficou pra trás e coisas novas foram incorporadas no meio do caminho.

Hoje, 4 anos depois da sua chegada me sinto mais madura, mais adulta, mais segura. Aprendi a depender menos da aprovação alheia e a confiar um pouco mais nas minhas intuições. Porque não dava para ficar para sempre esperando a chancela externa para me validar como mãe.

Fico meio tonta de pensar que há 4 anos você era um recém-nascido e hoje já me pede para assistir ao filme do "black panther" e sabe de cor os nomes dos Avengers. Olhando retrospectivamente, eu já não consigo delimitar o momento exato em que eu percebi que você tinha deixado de ser um bebê e havia virado um menino.

O primeiro susto foi quando você foi à maternidade conhecer a sua irmã. Com aquele bebê recém-nascido nos braços eu mal podia acreditar no quanto você havia crescido sem que eu percebesse.

Mas a transformação só ficou mesmo evidente de uns meses pra cá. Hoje você articula bem as ideias, tira suas próprias conclusões, argumenta e até negocia. Uns dias pra trás você deu uma crise de birra em um momento de muito cansaço. Mas depois que se acalmou conseguiu explicar parte da razão que havia lhe chateado. E foi ali, filho, quando com lágrimas nos olhos você me disse a razão da sua mágoa comigo, que eu tive certeza que o bebê havia mesmo crescido.

Você adora histórias, principalmente quando há heróis e vilões envolvidos. Gosta muito de desenho animado, mas também sabe apreciar um bom livro. Sua atividade preferida ao ar livre é nadar. De uns dias pra cá você começou a dizer coisas como: "Mamãe, hoje tem muito sol. Isso significa que podemos nadar, né?"; "Mamãe, o dia está tão lindo. Vamos ao parque?"

Acho que o toque físico ainda é um das suas principais linguagens do amor. Quando bebê você já era bem chameguento. Hoje pede muito colo e distribui generosamente abraços e beijos em explosões de afeto cotidianas. Mariana é sua principal seguidora e cúmplice nas travessuras. Mas, boa parte dos meus esforços do dia ainda é apartando brigas e repetindo incansavelmente que vocês precisam compartilhar os brinquedos e a atenção das pessoas. E por mais exaustivo que isso seja, é muito gratificante testemunhar o quanto a chegada dela vem impactando a sua forma de ser.

Eu poderia gastar linhas e linhas descrevendo os aspectos da sua personalidade e ainda assim me lembraria amanhã de algo que ficou de fora. Por isso enrolo um bocado para escrever essas cartas. Elas são limitadas demais. Mas nossas vidas têm sido tão ricas que eu não poderia deixar de registrar um pedacinho daquilo que temos vivido como família nesse tempo que passa tão rápido que me deixa atônita.

Você é um menino maravilhoso e meus desejos para você neste seu 4º aniversário são incontáveis. Mas o principal é que ao longo da sua vida você conheça a plenitude que só pode ser encontrada em Cristo. Que Deus cumpra os propósitos Dele pra você e em você. Que a luz Dele resplandeça em e por meio de você. Que as dores e adversidades desta vida sejam meios de graça para que você confie cada vez mais Naquele que lhe criou e que conhece cada desejo, anseio, dúvida e angústia do seu coração.

Amo você,

Mamãe 







segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

Mariana - 1 ano





Filha,

Quando eu tinha 21 anos realizei um sonho de fazer um intercâmbio. Passei 10 meses em um país maravilhoso, fiz amigos para a vida toda e aprendi um bocado de coisas sobre mim mesma. O negócio é que durante esse tempo eu estava muito preocupada com o meu aprendizado. Por isso, olhando retrospectivamente, acho que algumas coisas poderiam ter sido bem mais leves se eu tivesse simplesmente relaxado, algo que só consegui fazer quando já estava quase na hora de voltar para casa. Como resultado, voltei pra a casa com a impressão de que teria aproveitado muito mais o intercâmbio se tivesse a chance de fazer tudo de novo.

Acho que muita gente tem essa expectativa com o segundo filho. De fato, seu pai e eu estávamos muito mais descolados com um monte de coisas quando você nasceu. E quando a gente não está caindo de medo de "mimar" o bebê, fica infinitamente mais fácil curtir as incontáveis horas de peito e colo neste primeiro ano que é tão peculiar. Por outro lado, cuidar de duas crianças tão pequenas com necessidades tão distintas requer TUDO de nós. Mas essa entrega, tão visceral, tem sido repleta de significado para nós quatro.

2018 foi um ano um tanto conturbado para a nossa família. Seu pai perdeu o emprego em outubro de 2017 e só conseguiu uma nova colocação em junho de 2018. Nesse período ele participou de vários processos seletivos e teve de lidar diariamente com a ansiedade advinda da incerteza quanto ao futuro profissional. Eu, por outro lado, caminhei na corda bamba tentando a duras penas equilibrar meus papeis de mãe de dois e profissional home-office. Seu irmão, por sua vez, teve de aprender a compartilhar os pais e, apesar de gostoso, esse aprendizado também foi doído para ele. Em dezembro todos sentíamos o peso do cansaço no corpo e na alma. 

Mas foi com os corações cheios de gratidão a Deus pela provisão e o cuidado Dele com a nossa família que encerramos o ano. Decidimos comemorar seu aniversário em Belo Horizonte. Vovó Sheila e tia Leeh prepararam um bolo, docinhos e salgadinhos. Foi uma festinha pequena, mas muito aconchegante. Você ficou todo o tempo querendo brincar com os enfeites da mesa e, na hora dos parabéns se encolheu toda de pura inibição quando percebeu que as palmas eram pra você.

Achei muito fofa essa demonstração de acanhamento tão precoce. Aliás, você vem nos surpreendendo diariamente com uma vontade enorme de aprender coisas novas em um ritmo muito acelerado. É notável a sua satisfação consigo mesma desde que começou a andar duas semanas e meia antes do seu primeiro aniversário. Agora é difícil manter você no colo, já que seus pezinhos ligeiros querem explorar muitos caminhos.

Se antes o meu receio era o de "mimar" seu irmão pelo excesso de colo, hoje eu temo exatamente o oposto: não dar colo e atenção o suficiente para você. Mas o interessante é notar o quanto você demonstra tranquilidade e serenidade em meio a todas as nossas crises. E, mesmo que aprecie muito receber atenção exclusiva, você se vira muito bem quando isso não é possível. Como tem sido gratificante testemunhar seu desenvolvimento!

Hoje cedo, me distraí por um minuto e quando vi você estava sentada sozinha em uma cadeira enorme terminando de comer uma torrada que seu irmão deixou na mesa. Eu quase caí de susto e você ficou satisfeitíssima com sua façanha ;)

Seu desejo de sair de casa é tão grande que basta alguém abrir a porta para você disparar para o hall na direção do elevador. Se a porta estiver aberta você não hesita um segundo para entrar. Há poucos dias aprendeu a chamar o elevador sozinha. 

Você é uma bebê muito ativa, não sossega nem para mamar. Enquanto mama faz mil e uma manobras até ficar completamente de cabeça para baixo. Dorme bem à noite, mas ainda acorda uma ou duas vezes. Durante o dia quer explorar todos os cantos da casa. Seus objetos favoritos são controles remotos e celulares e suas brincadeiras favoritas são jogar roupas limpas e passadas no chão e tirar todos os sapatos das sapateiras e os livros dos armários. Há poucos dias aprendeu a abrir a porta de um pequeno armário que temos na sala com alguns objetos de cozinha. Sempre que tem a chance você pega os rolos de plástico aderente e sai caminhando com eles pela casa. Ontem encontrei um dentro da minha gaveta de trabalho.

Você adora se jogar em um colchão extra que de vez em quando deixamos encostado na parede do quarto de vocês. Pega-pega também é algo que lhe arranca muitas gargalhadas. Basta seu pai, seu irmão ou eu dizermos que vamos te pegar que você sai correndo pela casa dando gritinhos de empolgação. Seus passinhos, ainda vacilantes, estão a cada dia mais rápidos. Subir e descer escadas, de preferência sem ajuda, também está entre suas brincadeiras favoritas. 

Brincar e brigar com o seu irmão são atividades que tomam todo o seu tempo nos períodos em que ele está em casa. Desde bem pequenininha você começou a reclamar sempre que o Pedro toma um brinquedo da sua mão. Agora você parte para cima dele com mordidas, beliscões e muitos arranhões quando ele lhe toma algo ou quando ele está segurando algo que você quer muito pegar.  Com seu pai e comigo você ralha toda vez que frustramos suas expectativas. Dependendo do momento, você abre o berreiro ao ouvir "Não pode!".  Seu vocabulário ainda é bem restrito, mas você emite sons o dia todo a adora cantarolar. Sua primeira palavra foi "mamãaaa", mas papai foi a primeiríssima que você conseguiu pronunciar direitinho.

Filha, neste seu primeiro aniversário desejo que você cresça com a certeza de que é muito amada.  Que Deus cumpra cada um dos seus propósitos em sua vida. Que as dores e adversidades desta vida sejam meios de graça para que você confie cada vez mais no nosso Bom Pastor que caminha conosco mesmo no Vale da Sombra da Morte. Que o amor incondicional do Pai te liberte de toda escravidão imposta pelos falsos ídolos da nossa cultura e que a sua identidade se baseie tão somente no amor de Jesus. Pois este amor é eterno e imutável. 

Amo você,

Mamãe





quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Mariana - Relato de Parto

Domingo, 17 de dezembro de 2017,

Eu estava grávida de 38 semanas e 6 dias. Acordei às 4h da manhã sentindo leves contrações. Elas iam e vinham há 3 dias, mas eu não sabia se eram contrações de trabalho de parto, pródromos ou braxton hicks. Baixei um aplicativo no celular que media o intervalo e o nível de intensidade da dor. O problema era que mesmo quando o intervalo era curto, o nível de intensidade da dor não passava de médio. Por isso eu estava começando a duvidar que meu TP ia começar de fato.

Mas naquele domingo as contrações começaram a vir com mais frequência e um pouco mais doloridas, por isso passei a manhã inteira monitorando. Às 11h saímos para almoçar na casa da bisa Mariana e lá eu fiquei andando de um lado para o outro para ver se o intervalo diminuía. Funcionou. Entre meio-dia e uma da tarde eu consegui cronometrar 16 contrações. Mas era só parar de andar que o intervalo voltava a aumentar. Por isso não quis alarmar o resto da família e continuei aguardando.

Por volta de 15h eu liguei para o meu obstetra e relatei tudo o que estava acontecendo nos últimos dias. Ele disse que era provável que o TP se iniciasse naquela madrugada ou dali a duas noites. Nesse meio tempo eu só precisaria observar o intervalo entre as contrações. Minha amiga Carla, que já havia trabalhado como doula, havia me aconselhado a andar o máximo que conseguisse para acelerar o seu encaixe e também o TP. Foi por isso que ao ouvir do obstetra que o TP poderia começar naquela madrugada fui para a academia do prédio e caminhei 30 minutos na esteira. Depois fiz alguns exercícios na bola de Pilates.

Depois que voltei da academia tomei um banho longo e quente e me sentei no sofá para assistir um pouco de TV com seu pai enquanto seu irmão cochilava. Apesar da dor que ia e vinha tivemos um dia muito bom. No fim da tarde a dor começou a ficar mais intensa e eu decidi tomar outro banho. Debaixo do chuveiro tive uma crise de choro porque estava muito ansiosa e bem cansada emocionalmente de monitorar o meu corpo sem ter certeza se o que estava acontecendo era de fato o início do TP. Nesse momento seu pai teve uma intuição de que você iria mesmo nascer naquela noite e ligou para a vovó Jane buscar seu irmão para dormir na casa dela.

Seu pai nunca tinha assistido "A vida é bela" e como esse é um filme que ninguém consegue parar de ver antes do fim, nós continuamos grudados na TV depois que sua avó buscou seu irmão.  Mas as dores se intensificaram e eu decidi me deitar. Fui para o quarto e consegui cochilar um pouco. Quando o filme acabou seu pai se deitou ao meu lado e começamos a marcar  juntos o intervalo entre as dores. Nosso obstetra havia dito que eu deveria ligar para ele quando conseguisse marcar 8 contrações em 30 minutos. Percebíamos que se eu ficasse andando pela casa elas aumentavam consideravelmente a frequência e conseguimos marcar mais de 16 em uma hora. Mas era só eu deitar que o bendito intervalo diminuía.

Não queríamos ir para a maternidade antes da hora. Por isso eu decidi tentar dormir pensando que se aquilo fosse mesmo TP as contrações iriam me acordar.  Já eram 21h30 e eu estava bem cansada já que eu estava acordada desde às 4h da manhã. Eu havia sonhado por muito tempo com um parto normal, mas não queria ficar frustrada se tivesse de passar por outra cesárea. Por isso, durante a gravidez eu orava todos os dias reafirmando a soberania de Deus sobre a sua vida e sobre a via de parto, ao mesmo tempo em que pedia para Deus guardar o meu coração de amargura ou ressentimento caso as coisas não acontecessem da forma como eu sonhava. Mas naquele momento eu simplesmente pedi a Deus que me desse discernimento sobre o momento certo de ir para a maternidade e que guardasse a sua vida. Eu estava física e emocionalmente cansada de monitorar contrações e tinha receio de perder a hora e lhe colocar em perigo.

Meia hora depois senti uma contração mais forte e percebi uma grande quantidade de líquido saindo. Sabia que naquele momento a bolsa havia estourado e agradeci a Deus em voz alta por aquele sinal tão claro de que meu TP havia começado. E filha, quando a bolsa estourou eu tive certeza de que seu parto seria cirúrgico porque foi exatamente assim que o parto do seu irmão começou. Mas por um milagre do Espírito Santo eu não senti nenhuma amargura, só gratidão pelo cuidado de Deus conosco.

A grande supresa veio quando eu levantei para informar seu pai que era hora de ir para a maternidade e percebi uma dor tão grande que eu mal conseguia parar em pé. No parto do seu irmão eu não senti absolutamente nada depois que a bolsa rompeu. Desta vez as contrações ganharam uma intensidade inimaginável que me fizeram sentir muito medo. Pensei que alguma coisa estivesse errada e que você estava correndo perigo. Eu não conseguia ficar em pé e não fazia ideia de como conseguiria esperar o elevador descer os 24 andares do nosso apartamento até a garagem, tampouco como caminharia até a nossa vaga, que é a penúltima do subsolo.

Felizmente a maternidade fica muito perto da nossa casa e como era domingo à noite não tinha trânsito nenhum. Chegamos lá em menos de 5 minutos. Mas demorou uns 10 para eu ser atendida e nesse meio tempo eu gritava por ajuda. Quando o plantonista me examinou eu ouvi a frase mais desejada por mim durante todos os dias desde a minha primeira gravidez: estava com dilatação de 4 cm e você estava completamente encaixada! Mas naquele momento aquelas palavras soaram como um balde de água fria. Como era possível sentir tanta dor e só ter 4 cm?

Comecei a gritar que não aguentaria aquilo, que precisava de anestesia ou de uma cesariana urgente. O plantonista ligou para nosso obstetra informando a ele sobre o meu estado e o dr. Luiz disse que chegaria dentro de uma hora. Neste meio tempo eu fui internada. No começo eu não conseguia parar de gritar e pedir ajuda. Senti saudades do parto seguro e tranquilo do seu irmão e me indagava onde estava com a cabeça quando idealizei o tal do Parto Normal. Naquele momento essa me pareceu a ideia mais tola e imprudente de toda a minha vida.

Seu pai tentava me ajudar como podia. Primeiro sugeriu que eu entrasse no banho, o que eu concordei em fazer depois de muita resistência. Mas a água me irritou ainda mais. Depois me sentei no sofá ao lado do seu pai enquanto ele tentava me animar dizendo que tudo estava indo muito bem e que você provavelmente iria nascer no dia que havíamos sonhado (18/12). Conversar também me irritava e eu queria ficar em silêncio. Ao perceber isso seu pai parou de falar. Mas depois me contou que orou por mim naquele momento e pediu que o Espírito Santo me fortalecesse. No mesmo instante ele disse que meu rosto, até então pálido, ficou corado e ele teve certeza de que não estávamos sozinhos naquele quarto :)

Não conseguiria descrever em detalhes o que se passou na próxima hora. Aliás, olhando para trás me parece que foram minutos. A cada contração eu tinha certeza de que não aguentaria sentir aquilo mais nenhuma vez. Nos intervalos eu chegava a cochilar de alívio e cansaço.

00h05 - entra o dr. Luiz e a enfermeira comenta que eu havia pedido para fazer cesariana.

- Erica? Pedindo cesariana? Ainda bem que eu não estava aqui para ouvir isso!
- Mas eu não estou mais aguentando essa dor...
- Deixa eu te examinar pra ver o que podemos fazer pra te ajudar. Se já tiver chegado nos 5cm eu posso ligar para o anestesista porque até ele chegar é provável que esteja com 6cm. Se ainda estiver com 4cm a gente reavalia.

As contrações estavam vindo há intervalos tão curtos que o exame de toque teve de esperar. Nesse meio tempo ele me orientou a levantar, relaxar a musculatura dos braços e pernas e a respirar. Todas essas técnicas de parto eu havia praticado durante a gravidez do Pedro, desta vez eu não quis saber de nada para não aumentar o desejo pelo parto normal.

Quando conseguiu fazer o toque o Dr. Luiz deu um sorriso dos mais satisfeitos e falou:

- Tenho uma "péssima" notícia para vocês. Não vai dar tempo de pedir anestesia. A dilatação já está em 7 cm. Ela vai nascer na próxima meia hora!

-  Mas eu estou com medo!

- Erica, não precisa ficar com medo. Se você aguentou até aqui, vai conseguir ir até o fim. Você conseguiu o seu parto normal!

Embora meu corpo pedisse por um alívio daquela dor, aquelas palavras pronunciadas com tanto entusiasmo tiveram o efeito mágico de trazer à minha memória o quanto eu sonhara e pedira a Deus por um parto normal. Parei de reclamar e de pedir uma cesariana. Até porque eu nem tinha mais forças para isso. Meu corpo entrou no ritmo do parto e começou a trabalhar sozinho. Foi como se a mente tivesse ficado em modo de economia de energia para que o corpo trabalhasse na potência máxima.

Engraçado que não me senti "empoderada" em nenhum momento do trabalho de parto. Me senti frágil, completamente entregue a um sentimento muito grande de impotência e medo, muito medo. Tinha medo que meu útero se rompesse, tinha medo de não conseguir empurrar você, tinha medo que você entrasse em sofrimento, tinha medo que meu períneo sofresse uma laceração de terceiro grau, tinha medos inimagináveis e impronunciáveis.

Nos poucos minutos em que todos esses possíveis horrores me atormentavam eu tive mais duas ou três contrações. Dr. Luiz fez um novo toque e constatou que a dilatação havia chegado nos 10 cm. Dr. Luiz me informou que o risco de rotura uterina agora era zero e pediu que a enfermeira ligasse para a pediatra e informasse que você nasceria nos próximos minutos.

- Erica, agora é hora de fazer força!

As contrações continuaram a vir muito rapidamente e eu mal parava de fazer uma força, já sentia uma necessidade enorme de empurrar novamente. Este foi o momento mais crítico porque eu sentia que nunca teria força suficiente para empurrar você. Mas cada vez que eu empurrava recebia muito encorajamento por parte do seu pai e do dr. Luiz. E foi então que depois de fazer isso umas 5 ou 6 vezes eu ouvi dr. Luiz dizendo:

- Vai nascer agora!

Olhei para o seu pai esperando que ele me confirmasse isso e ele falou:

- Nasceu!

Na verdade você tinha só coroado, mas seu pai viu o topo da sua cabeça. A alegria dele ao dizer isso foi contagiante e foi como um energizante que me impulsionou a fazer a última força. Depois de empurrar mais uma vez eu senti seu corpinho sair.

Plena. Realizada. Aliviada. Feliz.

Seu pai e eu ficamos flutuando naquele sentimento maravilhoso pelos dias que se seguiram....A empolgação de narrar o parto era tão grande que contávamos em detalhes para todos os que se dispusessem a ouvir. E revivíamos aquela emoção a cada relato.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Mariana: 9 meses!

Filha,

Há meses tenho lhe escrito uma infinidade de cartas mentais, mas não consegui me sentar durante o tempo necessário para transformar os pensamentos em palavras escritas.  Isso é um indicativo do quão turbulentos têm sido os nossos dias. Fico frustrada por não conseguir escrever com a mesma frequência com a qual escrevia para o seu irmão na sua idade, mas tenho feito, literalmente, o que cabe no dia e isso não impede que as pendências parem de se acumular.

Pela Graça de Deus seu pai pôde ficar em casa nos seus 8 primeiros meses de vida, e apesar da ansiedade que experimentamos com relação às finanças e ao futuro profissional dele, Deus supriu todas as nossas necessidades. Tê-lo em casa nesse  tempo me poupou bastante. Quando ele voltou a trabalhar, tivemos de fazer uma série de ajustes na rotina. Mas a sensação de que não tem "mãe" suficiente para dois é maior do que os meus esforços contínuos para suprir as demandas.

A impressão que tenho é a de que estou em um treinamento intensivo cujo objetivo principal é atingir a maior produtividade, eficiência e eficácia sob pressão intensa e crescente. Tornar-me cada vez mais dinâmica e produtiva poderia até ser uma grande vantagem se isso não tivesse um custo alto para aquilo que considero essencial na vida: os relacionamentos. 

E é exatamente aí que, na minha opinião, reside o grande paradoxo da maternidade: cuidar do outro requer movimento, agilidade, destreza. Quando um bebê chora porque tem fome ou uma criança de três anos e meio dá birras porque passou da hora de dormir não há nada que substitua a eficácia de uma rotina bem estruturada. Mas estruturar essa rotina dentro da rotina da família dá trabalho, requer ajustes e uma boa dose de eficiência, eficácia e produtividade.

Ao mesmo tempo é preciso desacelerar...

Sua brincadeira favorita é escalar minhas pernas para firmar as suas. Se eu saio depressa você cai no chão...

Um passeio pelo quarteirão com o Pedro tende a se transformar em uma excelente oportunidade para explorar cada folhinha, formiga, abelha, tronco de árvores e o que mais aparecer no meio do caminho...

Uma boa sopa de lama no meio da manhã pode se tornar uma brincadeira de algumas horas com você e com o seu irmão...

Os olhos que me acompanham são mais atentos ao ambiente que me cerca, prontos a captarem os detalhes que na minha correria e neura de não desestruturar a rotina eu tendo a deixar passar.

Como ficam os ânimos diante desse impasse? Por aqui, quase sempre muito exaltados. Ao mesmo tempo pedindo Graça a Deus para ser fiel naquilo que me cabe fazer hoje. E, mesmo em meio às pequenas irritações decorrentes do sono, da correria e da fadiga, aprender a cultivar a alegria, a gratidão e o contentamento.

No meio do furacão ouço sempre aquela Voz dizendo:
"Erica, Erica, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária!" * 
...

Sobre o seu desenvolvimento



- Começou a sentar com 7 meses e a engatinhar um dia depois de sentar
- Aos 8 meses pesava 8 kg e media 71 cm. Aos 9 meses não medimos ainda, já que as consultas pediátricas são bimestrais.
- Agora, com 9 meses, está balbuciando as primeiras sílabas (dádádá/ mamãaaaaa/ nenê/ papá/ vovó) e fala o tempo todo, quase sem parar ;) Quando está em apuros, com sono ou com saudades dispara a falar "mamã", "mamã", "mamãaaaa".
- Seus 2 dentinhos de baixo nasceram quando você estava com 7 meses. Agora eles já estão grandões e isso tem sido uma mão na roda, já que você gosta muito de comer.
Come frutas, papinha de legumes e não rejeitou nenhum alimento. Sempre rapa o prato e come em grandes quantidades!
- Dorme entre às 19:30-20h e, para a supresa e alegria da mamãe, há pouco menos de uma semana deixou de mamar no meio da madrugada e assou a acorda por volta de 6h30.  
- Até bem pouco tempo atrás abria o berreiro sempre que entrávamos no carro. Mas desde que compramos uma trava para você não tirar o cinto de segurança você se resignou e começou a dormir. Agora é batata: entra no carro e dorme.
- É ultra curiosa e gosta muito de explorar todos os cantinhos da nossa casa.
- É super sociável e sorri para todas as pessoas que lhe dão atenção.
- Há pouco tempo começou a chorar quando sai do meu colo, mas logo se acostuma e volta a sorrir para quem estiver lhe segurando.
- Fica super tranquila na salinha da igreja sem mim. 
- Sua atividade favorita é se apoiar nos móveis ou nas nossas pernas para ficar de pé. Precisa ver sua satisfação consigo mesma sempre que faz isso.
- Você também gosta muito de brincadeiras de todo o tipo. Dá risadas altíssimas quando apostamos corrida com o Pedro tendo você no colo ou no carrinho. Quanto mais radical a brincadeira, mais você ri!

Você é uma bebê mega chameguenta, carinhosa, charmosa e risonha. Seus olhos são muito sapecas e seu sorriso é alegre demais. E você o distribui o dia todo para qualquer pessoa que lhe dirigir a palavra ou simplesmente dizer seu nome. Que essa alegria e bom-humor lhe acompanhem sempre, filha. E a abertura para os relacionamentos também.

Update (9 meses e meio): Na semana passada você viajou com a mamãe à trabalho. Ficamos quase uma semana inteira fora. Seu pai e eu estávamos muito ansiosos e estressados em relação à viagem. Mas em todo o tempo você manteve o bom-humor e o carisma de sempre, até na longuíssima viagem de van que nos levou de Recife ao sertão da Paraíba. Graças a Deus tia Inácia foi conosco e deu uma preciosa ajuda para a mamãe. Você não ficava muito satisfeita em passar tantas horas sob os cuidados de outra pessoa, e isso foi algo que tivemos de administrar juntas. Mas a semana foi um tempo de aprendizado intenso para toda a nossa família.  Seu irmão, que vinha dando crises de ciúmes e reclamando que não queria mais uma irmã, ficou numa alegria só quando te reencontrou. Ele tem demonstrado muito carinho e cuidado com você na semana seguinte à nossa chegada. Isso tem sido um bálsamo para as minhas feridas de mãe de dois. 

* Ler o relato de Lucas 10:41

segunda-feira, 7 de maio de 2018

Pedro - 3 anos!



Filho,

Na manhã do seu 3º aniversário você, como sempre, acordou primeiro que seu pai e eu. Mas agora já não somos nós que vamos até o seu quarto para te ajudar a levantar, é você quem caminha a passos rápidos até a nossa cama para nos avisar que o sol já nasceu e que, portanto, está na hora de acordar ;) 


Seus 3 anos marcaram uma transformação repentina em você! Foi como se do dia para a noite você deixasse de ser um bebê para se transformar em um menino. Hoje, você é capaz de perceber meu olhar cansado em um dia de muito estresse e me perguntar se eu estou triste. Se me ouve reclamar de dor ao chutar o pé da cama, vem correndo perguntar o que aconteceu e dizer que eu preciso ir ao médico. No trajeto para a escola pede para ouvir suas músicas favoritas e tenta cantarolar junto. Antes das refeições e ao deitar balbucia timidamente uma breve oração e diariamente agradece ao Papai do Céu pela vida do papai, da mamãe e da irmã.

Mas esse mesmo menino que em certas situações demonstra tanta empatia, solidariedade e desejo de cooperar pode passar em questão de segundos de um estado de completa alegria para fúria total. Obediência é um conceito que temos tentado lhe ensinar a duras penas. Como não poderia ser diferente, você tem vontade própria, e nem sempre ela é compatível com a sua segurança ou com o bem-estar da nossa família. Por isso precisamos lembra-lo diariamente que é preciso obedecer, respeitar limites, cooperar. Não tem sido nada fácil e a cada dia me surpreendo com o tamanho da tarefa que está diante de nós.

Na véspera do seu terceiro aniversário seu pai e eu planejamos cantar parabéns na companhia dos seus avós maternos, já que a festinha só seria feita duas semanas depois. Eles chegaram cedinho, antes mesmo de você tomar banho e logo foram presenteados com uma grande birra. Ao ouvir você gritar enquanto seu pai lhe dava banho eu pensava no quanto esse dia havia começado de forma diferente do que eu havia idealizado. Mas refletindo sobre isso ao longo do dia constatei que um dos maiores desafios que a maternidade coloca diante de mim diariamente é não ceder à amargura quando aquilo que idealizei se distancia (e muito) da realidade que vivemos.

Veja bem, eu sou uma pessoa controladora, organizada, viciada em rotinas e em planejamento. Hoje, mal consigo manter organizada a minha gaveta de sapatos. Mas a frustração por não controlar os mínimos detalhes da minha agenda em nada se compara à frustração diária de não conseguir ser a mãe que me proponho a ser pra você e para a sua irmã. É que sempre deixamos algo a desejar quando empreendemos uma busca insana e frenética pela perfeição. 

Por isso a tentação de descabelar, ceder ao desespero, ao medo, à autoflagelação, à autopiedade e à autocomiseração diante dos fracassos é uma luta diária. Mas felizmente temos sido renovados a cada novo amanhecer pelo Espírito Santo do nosso Deus que nos lembra que antes de ser nosso, você é Dele.

Há pouco mais de um mês ouvi as seguintes palavras de uma mãe de 3 que respeito e admiro:

"Você não é a mãe perfeita, mas é a mãe escolhida por Deus. Saiba que você vai errar, mas a Palavra de Deus é suficiente para restaurar, reparar e moldar o que Ele deseja em cada um".

E nessa esperança caminhamos dia após dia.

*** 

Sobre o seu desenvolvimento: 

Altura: 1,04 m
Peso: 17 kg

Atividade física favorita: nadar, nadar e nadar!!!

Se comunica com bastate fluência e pronuncia bem a maior parte das palavras. Mas nos mata de rir com algumas pronúncias bem peculiares como:

cacapete (ao invés de capacete)
macurujá (ao invés de maracujá)
soldados "macientes" pregaram Jesus na Cruz (até hoje não conseguimos desvendar o significado dessa palavra)

Até bem pouco tempo atrás você dizia "aba" ao invés de "água". Essa foi uma das primeiras palavras que você aprendeu a usar quando tinha acabado de completar 1 ano de idade. Nas vésperas de completar 3 anos você continuava dizendo "aba" até que um dia seu pai e eu pedimos para você repetir Á-GUA várias vezes. Quando conseguiu pronunciar a palavra de maneira correta você ficou visivelmente satisfeito consigo mesmo. Agora, sempre que quer água, faz questão de enfatizar o GUA.

Frases fofinhas:

amo você também, mamãe/papai

solta o cabelo (toda vez que me vê de cabelos presos)

"bonitinha do Pedrão"/ "gostosinho do Pedrão" (para a sua irmã)

"Você vai tomar vacina agora irmã, é pra você não ficar doente"  

Músicas favoritas: 

pastorzinho

5 macaquinhos

Histórias bíblicas favoritas: 

Davi e Golias

Daniel na cova dos leões 

Arca de Noé

Contos de fadas favoritos:

3 porquinhos  (até pouquíssimo tempo você encenava o lobo mau soprando as 3 casas umas 30 vezes por dia)

Sono: dorme das 18h30 até às 6h30 e não tira mais as sonecas diurnas desde que começou a ir para a escola à tarde. Estava com o hábito de chamar seu pai para dormir com você todas as noites por volta das 23h. Há 5 noites conversamos sobre a necessidade que o seu pai tem de dormir na nossa cama e você alegou que tinha medo que "os soldados" viessem te pegar se você ficasse sozinho no seu quarto. Oramos sobre isso, dissemos que Jesus está sempre com você e que o nosso quarto fica bem pertinho do seu. Desde então você tem passado a noite toda no seu quarto :)

Amo você!


domingo, 18 de março de 2018

Mariana: 3 meses!

Filha,

Eu nunca me imaginei como mãe de uma única criança. Por isso comecei a sonhar com você quando seu irmão ainda era um recém-nascido. Mas quando o cansaço da segunda gravidez começou a apertar eu senti um medo enorme de não dar conta de ser mãe de dois. É que sua mãe tem uma grande tendência a se preocupar demais. Esse negócio de viver um dia de cada vez não é um processo natural pra mim. Pelo contrário, preciso fazer um esforço hercúleo para não viver antecipando preocupações e angústias.

Viver cada momento com os olhos fixos no alvo nunca foi tão crucial para encarar a rotina de mãe de 2 + profissional + dona de casa. Entre mamadas diurnas e noturnas, consultoria de comunicação, roupas e louças que aparentemente nunca param de acumular, educação do Pedro, etc, etc etc,  sinto como se uma bola de neve gigante estivesse rolando atrás de mim e que se eu parar para tomar fôlego por um segundo ela vai me soterrar.

Tenho andado pilhadíssima desde que voltei à consultoria de comunicação. Mas meu coração está cheio de júbilo e gratidão pela possiblidade de trabalhar em casa. Compramos um mini-berço para colocar no escritório de modo que eu posso trabalhar com você deitada ao meu lado. Sempre que minha cabeça começa a ferver eu posso fazer pequenas pausas para "conversarmos". Nesses nossos diálogos você me presenteia com sorrisos de derreter o coração.

Por outro lado, vivo agora um desafio ainda maior para conciliar meu papel de mãe (de 2!) com o trabalho. Quando estou com um prazo apertado no meio de alguma tarefa e você começa a chorar pedindo colo eu começo a idealizar uma vida bucólica em que minha única função seria criar vocês e isso já seria um prato cheio. Aí me lembro que conciliar carreira e maternidade foi uma escolha e que apesar dos percalços tem sido extremamente gratificante :)

Filha, seus três primeiros meses de vida fora do útero foram revolucionários para a nossa família. Enquanto seu pai e eu aprendemos a trabalhar em equipe com mais afinco e eficiência, seu irmão aprende a dizer "nosso papai" e "nossa mamãe"  :)

É muito gostoso pra mim observar as interações entre vocês. Vez ou outra Pedro até se aventura a escalar seu berço só para ver você sorrir para ele. Ele também gosta de te dar beijinhos na bochecha, nos pés e nas pernocas gostosas. Às vezes ele faz uma pausa nas brincadeiras pra conversar com você por entre as grades do estrado e para a minha agradável surpresa ele até já te inclui nas brincadeiras colocando brinquedos em cima de você ou tentando te ensinar a segurar mini filhotes da Patrulha Canina, bolas, livros, carrinhos...

Seu pai tem passado mais tempo em casa nesses últimos meses e isso tem sido um bálsamo para mim e para o seu irmão. Ele é uma pedra de esteio para a nossa família, filha. Você vai descobrir isso em breve. Ele está a cada dia mais encantado com você. Seus banhos ficam por conta dele desde que você nasceu, tanto na banheira quanto no chuveiro. E a cada vez que troca suas fraldas ele vem me contar todo radiante que você não parou de sorrir durante todo o tempo. 

Você é supreendentemente calma, serena, tranquila e risonha.

E em meio à agitação enorme que vivemos das 6h às 23h você nos convida a fazer breves, porém  revigorantes, pausas para respirar.

Você é um presente para a nossa família.
...

Sobre o seu crescimento:

estatura atual: 64 cm
peso: 6 kgs!

Marcos do desenvolvimento:

Olha atentamente pessoas e objetos.
Agarra mantos, fraldas, roupas e principalmente meus cabelos com as mãos.
Sorri de volta quando sorriem para você.
Sorri muito quando escuta seu nome.
Levanta a cabeça e parte do tronco quando colocada de bruços.
Emite muitos sons e "responde" de volta quando falamos com você.
Aprendeu a "tocar de roda" quando deitada sobre as costas.

Sono:
Tem dias que tira longas sonecas de manhã e de tarde. Tem dias que passa quase todo o tempo acordada e atenta.
Dormiu comigo na cama nesses primeiros 3 meses. Agora concluímos que é hora do seu pai voltar para a cama e de você aprender a dormir sozinha. E para a minha supresa, você já dormiu 8 horas seguidas mais de uma vez (sem treinamentos aterrorizantes).

Distrações.
Adora observar e "conversar" com o móbile do berço.
Fica radiante de alegria quando conversamos com você.
Hoje viu pela primeira vez o vento batendo na cortina em cima do berço e ficou encantada.

Irritações:
Chora sempre que te colocamos no bebê conforto para passear e só pára de chorar quando o carro sai da garagem. Muitas vezes chora durante todo o tempo no bebê conforto.
Berra quando está com fome e mamãe demora a te dar mamá.
Embora passe muito tempo tranquila no berço, você fica muito irritada quando quer companhia e a gente demora a aparecer.

...

Filha,

Tenho refletido muito sobre o propósito das nossas vidas e sobre o nosso papel na Grande História que você vai conhecer em breve.  Somos muito, muito importantes,  mas somos todos coadjuvantes e isso é um alívio enorme. Que você não tarde a descobrir sua identidade como Filha Amada e que isso te torne livre para ser tão somente você.

Te amo,

Sua mãe.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Um clamor em meio à jornada

Voss, Noruega, julho/2014
"Senhor meu Deus,

Como eu posso saber que quando eu tiver de passar pelo Vale da Sombra da Morte o meu Bom Pastor estará lá com o teu cajado e com a tua vara para me consolar e para me guardar? Ah, meu Deus e meu Senhor, como eu posso saber que posso te conhecer pessoalmente e gozar da tua presença e comunhão eternamente? Eu, que me vejo tão cheia de pecado, tão cheia de culpa? Como eu saberei, Senhor meu Deus, se ainda posso ser perdoada por ti, eu que tenho um coração tão frio e tão duro? Ah meu Deus, como eu saberei quando estiver mergulhada nos meus problemas, angústias, dúvidas e ver as minhas esperanças e os meus sonhos despedaçados, como saberei que posso ainda ser transformada por ti, que sou transformada à imagem do teu Filho Jesus todos os dias? Como, meu Deus?Como eu saberei, quando me vejo triste, abatida, angustiada, totalmente desmotivada, como eu saberei que o senhor, com o seu poder e com a sua bondade, graça e misericórdia irá me guardar e que um dia o senhor irá novamente me encher de alegria e disposição?Como eu posso saber que quando eu não sentir mais nenhuma vontade de orar, às vezes nem mesmo de cantar, que o Senhor estará intercedendo por mim com gemidos inexprimíveis todos os dias e todas as noites? Como eu posso saber quando as trevas da escuridão me envolverem e quando a minha vida estiver quebrada por tantas decepções que o senhor irá recolher cada pedaço e fazer de mim uma mulher nova? Como eu posso saber que o teu Reino de Justiça e de Paz encontra-se presente em meio a tanta injustiça e maldade e que no final de tudo o senhor triunfará sobre todos os principados e potestades  e estabelecerá finalmente o teu Reino de Justiça e de Paz? Como eu posso saber quando eu estiver na tua presença, quando eu me encontrar diante do portão da cidade Santa, diante da Glória da tua Majestade, como eu posso saber que eu estarei contigo e tu me receberás no teu Reino Eterno e me abraçarás e dirás: "Serva boa e fiel, entra no gozo do teu Senhor"? 
                                  
"E o nosso Senhor, na noite em que foi traído, tomou o pão e havendo dado graças o partiu e disse aos seus discípulos: Este é o meu corpo que é partido por amor de vocês. E depois de haver ceado tomou o cálice dizendo: este cálice é a nova aliança feita pelo meu sangue. Bebei dele todos e fazei isto em memória de mim".  (1º Coríntios 11:23-25).

E Jesus, naquela noite, diz pra mim e pra você: Eu sou a garantia de que tudo isso vai acontecer. Este pacto é feito pelo meu sangue. É o meu corpo que é partido por vocês (...). Eu sou aquele em quem você pode confiar e no fim de tudo eu vou garantir a você a posse de todas as minhas promessas. Creia e me obedeça apenas. A única coisa que te cabe é a fé na graça que eu demonstro hoje."

(Pr. Ricardo Barbosa) 


segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Mariana: 6 semanas

Filha,

Há 6 semanas seu pai, irmão e eu vimos pela primeira vez o seu rosto. Sua chegada já era muito ansiada por cada um de nós. Seu irmão, mesmo pequeno e não entendendo direito o que isso significava, adorava dizer para a minha barriga: "Vem, irmã" :)  Quando eu respondia que em pouco tempo você ia mesmo "sair", ele respondia: "Tira ela, mamãe" :) 

Mas para mim, filha, a expectativa quanto à sua chegada começou bem antes da gravidez porque eu sempre sonhei em ser mãe de uma menina. Um mês antes da sua concepção eu pedi ao Papai do Céu que me desse uma filha e quando descobrimos que eu estava grávida de uma menina eu senti uma onda de felicidade tão grande que mal cabia dentro de mim! Na sua primeira semana de vida eu quase flutuava de alegria e realização ao olhar pra você e para o seu irmão: tesouros peculiares confiados ao seu pai e a mim pelo Autor da Vida. 

Você é uma bebê muito, muito linda! Adoro quando as pessoas dizem que você se parece comigo, mas quando eu olho para você só enxergo a sua avó Sheila e faço votos de que assim continue, já que ela é linda de viver. Suas medidas são excepcionais para a idade: nasceu com 54 cm e 4,1 kg e hoje já mede 60 cm e pesa 5,1 kg! Seus cabelos são castanhos claros e os olhos continuam acinzentados deixando a gente na maior expectativa pra saber de que cor vão ser. Ao contrário do seu irmão, que era praticamente careca, você nasceu mega cabeluda e super peluda, parece até uma ursinha!

Seu pai gentilmente cedeu a parte dele da nossa cama pra você nesse primeiro mês e eu tenho achado bem gostoso dormir com você tão pertinho mas o seu chorinho começa tão, mas tão suave, que às vezes demoro a acordar de madrugada pra te dar de mamar.

Dizem que bebês não sorriem intencionalmente antes da 5ª semana, mas estamos desconfiados de que você vem sorrindo pra valer há um bom tempo. Hoje deu um sorriso dos mais lindos pro seu pai que eu consegui flagrar nesta fotografia: 

Neste seu primeiro mês de vida desfrutamos de muito chamego! Você adora um colinho e mama várias vezes ao dia. Continuo adepta da livre demanda e isso aumenta consideravelmente o nosso tempo juntas. Uma das grandes vantagens de não ser mãe de primeira viagem é que agora eu não tenho receio nenhum de "estragar" você. Tampouco perco a paz de espírito quando você chora pedindo colo para dormir ou porque mamou há menos de uma hora e quer mamar de novo.

Quero mais é te encher de abraços, beijos e dar todo o colo que for possível nesse tempo que, sabemos bem, passa tão rápido... Já te imagino engatinhando pela casa, dando seus primeiros passos, balbuciando as primeiras palavras e se tornando cada vez menos dependente do nosso aconchego para se sentir segura. Por isso sei que cada segundo é valioso demais para ser desperdiçado com medos infundados e culpas que não têm razão de ser e isso é muito libertador! 

Agora a minha oração já não é pra que você durma a noite toda porque eu sei, por experiência, que isso é secundário. O que eu peço à Deus todas as noites é sabedoria para educarmos vocês e pastorearmos seus corações. Peço também discernimento para compreender quais são as suas necessidades emocionais mais profundas e supri-las da forma como precisam ser supridas. Peço coragem para discipliná-los com a firmeza que é necessária para moldar o caráter de vocês, mas também longanimidade para não nos exasperarmos. Peço ainda humildade para reconhecer meus erros e pedir desculpas sempre que for necessário.

Por fim, peço sensatez para não confundir autoridade com autoritarismo, nem liberdade com liberalismo. Li no blog da Lua Fonseca que "rio que corre sem margem, transborda. E margem que impede o fluxo é barreira, ou seja, represa e faz o rio morrer".  Meus sonhos pra você, filha, são do tamanho do mundo. Porém, não quero que as minhas expectativas te oprimam. Quero que você seja livre para ser você e para nos surpreender todos os dias. Estou ansiosa para conhecer sua personalidade, que é única e maravilhosa porque foi feita à imagem e semelhança do próprio Criador!

Termino essa cartinha com a bênção sacerdotal ensinada por Deus a Moisés e a Arão para que fizessem esta oração pelos israelitas. É importante que você saiba desde cedo, filha, que cremos em um Deus pessoal que deseja se relacionar intimamente conosco.

Tenho feito desta benção a minha oração por você e pelo seu irmão:

O Senhor te abençoe e te guarde
O Senhor faça resplandecer o rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti
O senhor sobre ti levante o rosto e te dê a paz.
(Números 6:24-26)

Amo você,

Sua mãe.

P.S: Sempre que vejo menininhas na rua, imagino você daqui a alguns anos e meu coração transborda de gratidão pela prece atendida :)

terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Pedro e seus primeiros 36 dias como irmão mais velho

Pedro,

Este último mês foi extraordinário para toda a nossa família, afinal de contas, ela ganhou um novo membro.

Como era de se esperar de uma criança de 2 anos e 9 meses de idade que até então era filho único, você está enciumado. Dói meu coração não poder te poupar dessa dor tão incômoda que vem do ciúmes, mas por outro lado, sei que algumas dores fortalecem o nosso caráter e fazem de nós pessoas melhores: menos egoístas e auto-centradas, mais generosas e altruístas. 

Pode até parecer que você está perdendo muito com a chegada da sua irmã, filho. Mas na verdade você ganhou um tesouro inestimável! Ser irmão mais velho é uma grande responsabilidade, mas também um enorme privilégio. Você ganhou uma companheira de brincadeiras, uma cúmplice de travessuras e uma testemunha de vida...

Nem sempre temos muito em comum com nossos irmãos, filho. E em alguns casos, aquelas afinidades que permitem que identifiquemos nossos melhores amigos estão completamente ausentes na relação fraternal. Mas isso nos torna menos implacáveis, mais generosos e mais amorosos. Ganhamos a chance de aprender desde cedo o que é amar incondicionalmente. 

O instinto de proteção do irmão mais velho é inegável, e mesmo sendo tão pequenino você já sabe do que se trata. Basta a sua irmã reclamar no berço pra você vir correndo me dizer: "Mamãe, a minha irmã está chorando".  Essa frase você repetiu inúmeras vezes nos últimos dias, filho. E nem desconfia do quanto ouvi-la enche o meu coração de orgulho. 

A competição também é inerente na relação fraternal e nesse mês você sentiu muita necessidade de competir por colo e atenção. Queria tanto que você soubesse que isso é totalmente desnecessário... Que apesar da sua irmã ser tão pequena e demandar muito cuidado, seu pai, avós, tios e eu não deixamos de pensar em você um minuto sequer. Seu espaço em nossos corações continua intocável porque as leis da física não se aplicam às relações humanas. 

Mas esse é um aprendizado que você terá de conquistar por conta própria e, no devido tempo, a sua irmã também. Peço a Deus que forme o seu caráter de modo que toda dor e adversidade que lhe acometerem nessa vida façam de você um homem melhor, para que, no fim, você se transforme na pessoa maravilhosa que Deus te criou para ser, nos moldes do próprio Cristo.

Por fim, filho, gostaria muito que você já soubesse que algumas coisas são muito melhores, maiores e  intensas quando compartilhadas. 

Alegria é  uma delas. 

E se você, meu menino alegre que sorri também com os olhos, já tem alegria para dar e vender, agora poderá compartilha-la com alguém que acabou de chegar e ainda está se ambientando a este mundo de dores. E por falar em dor, ela é infinitamente mais suportável quando pode ser compartilhada. Nossos fardos também se tornam bem mais leves quando há companheiros de caminhada. E você acaba de ganhar uma companheira para o resto da vida.

Amo você.

segunda-feira, 25 de dezembro de 2017

Resplandeceu a luz!

Adoração dos pastores, óleo sobre tela por Gerard Van Honthorst (1590-1656, Holanda)
"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.Ele estava no princípio com Deus.
Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez. Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam". João 1:1-5


Pedro e Mariana,

Há uma semana nossa família ganhou um novo membro, Mariana nasceu! A chegada de um novo bebê altera completamente a rotina de uma família e mobiliza amigos e familiares de uma forma muito comovente! O pai de vocês e eu estamos imersos em uma bolha de felicidade e gratidão pelas bençãos que Papai do Céu têm derramado abundantemente sobre o nosso lar. Pedro, embora um pouco enciumado, também tem demonstrado alegria e empolgação com a chegada da irmã. E, apesar de não ter 3 anos completos já defende a bebê como pode quando acha que ela está em apuros. 

Em meio a esta agitação que temos vivido, tenho pensado muito em um outro bebê que nasceu muito tempo atrás. Hoje, o nascimento dessa criança é celebrado em todo o mundo. Mas, por incrível que pareça, pouquíssimas pessoas se deram conta da importância da chegada Dele na época em que Ele nasceu. Os relatos bíblicos sobre o Natal são fascinantes! Uma adolescente engravidou virgem, deu à luz após uma longa e exaustiva viagem empreendida no lombo de um animal. Colocou seu bebê para dormir em um berço de palha. Anjos anunciaram as boas-novas aos pastores que estavam no campo. Magos pagãos do Oriente não tardaram a prestar sua homenagem ao Rei bebê. A família teve de fugir da ira de um governante tirano que mandou matar todos os bebês nascidos nesta época. E em meio a essa série de acontecimentos surpreendentes, pouquíssimas pessoas se deram conta do que estava acontecendo. 

Não é de se admirar que isso tenha passado desapercebido por tantos. Afinal, ninguém poderia imaginar que o Deus-Unigênito, criador do Universo, se rebaixaria a ponto de se fazer um bebê e habitar entre nós. O Todo Poderoso, Deus Eterno, Senhor dos Exércitos, veio a este mundo como um bebê, nasceu em um lar pobre, em um país subdesenvolvido, foi educado por um carpinteiro e por fim, ofereceu sua vida para nos resgatar da escuridão. 

A luz de Jesus resplandeceu em meio às trevas do pecado e da maldade e trouxe esperança a todos aqueles que vivem tateando na escuridão. Em meio a tempos sombrios como os que temos vivido, cheios de ódio, injustiça e maldade, podemos olhar para a luz que resplandece em Cristo e caminhar com esperança em um Deus que habitou entre nós e que prometeu que estaria conosco todos os dias. 

Que a luz de Cristo resplandeça em todos os confins deste mundo e traga paz, alegria, bom ânimo, justiça, misericórdia, alegria e amor.  Que a presença do Deus-Homem não passe desapercebida por nossa família, filhos. Que Ele esteja entronizado nos nossos corações e abra os nossos olhos para tudo de surpreendente que Deus deseja nos mostrar. Que nossa esperança esteja firmada Nele, e que em meio às tribulações desta vida, nossos corações não se abalem, sempre na certeza de que Ele continua conosco!

segunda-feira, 3 de abril de 2017

2 anos!


Sábado, 28 de março de 2015. Eu estava grávida de 37 semanas e 3 dias. A ansiedade para dar à luz tinha atingido o ápice, já que, além dos desconfortos físicos inerentes ao final da gestação eu mal podia esperar o momento em que lhe pegaria no colo pela primeira vez!  Mas como a data provável de parto estava ainda há três semanas de distância, seu pai e eu saímos para almoçar na casa dos seus avós maternos sem a menor suspeita de que aquela seria a penúltima vez em que sairíamos de casa sem um bebê nos braços.

Tão logo almoçamos e eu, que sentia uma irritação extrema por estar fora de casa e muita ansiedade em relação à forma do parto, chamei seu pai para voltarmos para casa. Mas ao me levantar da mesa do almoço e me sentar em uma das poltronas da sua avó – que mais tarde serviria de poltrona de amamentação em várias ocasiões – eu tive uma sensação completamente inusitada abaixo do útero e precisei ir ao banheiro checar do que se tratava. Naquele instante constatamos que a bolsa tinha estourado.

Seu pai e eu voltamos para casa meio atordoados com a possibilidade de conhecermos você ainda naquele dia. Embora a espera já aparentasse ser longa demais, não estávamos preparados para o que viria a seguir. E naqueles instantes em que nos demos conta de que a gravidez tinha finalmente chegado ao fim, entramos em um mundo paralelo de excitação, apreensão, ansiedade e expectativa.
3 dias depois saíamos da maternidade com um pacotinho no colo. E eu, que havia sido abandonada por qualquer vestígio de vontade própria, segurança e autocontrole a partir do momento em que me deitei na maca para me submeter a uma cesariana não desejada e muito receada, não sabia de onde tiraria aptidões físicas, mentais ou emocionais para operar a tarefa que de mim era esperada: cuidar de você.

Embora tenha batido o pé durante toda a gestação de que não nos mudaríamos para a casa dos seus avós nos primeiros dias de pós parto, naquele primeiro instante em que você estava inteiramente sob a nossa responsabilidade, eu não conseguia conceber a ideia de trazer você para a nossa casa. Minhas defesas caíram por terra filho, e eu me sentia tão frágil e vulnerável como aquele bebê que precisava de mim.

Os primeiros dias de pós-parto foram muito doídos. A dor cirúrgica era intensa, o desconforto que sentia ao me olhar no espelho e ver aquele corpo flácido e tão maior do que o habitual – embora não abrigasse mais nenhum bebê dentro de si –, o leite que não parava de jorrar e deixava todas as roupas molhadas, o sangramento intenso que se segue ao parto... Esses desconfortos físicos somados ao cansaço decorrente das noites em claro faziam com que eu me sentisse ainda mais debilitada e assustada.  Eu sentia medo de tudo o tempo todo: medo de te machucar, medo de te mimar, medo da sucumbir à exaustão, medo de nunca mais sentir alegria...

Vivemos muitos momentos gostosos nos seus primeiros dias de vida, mas todos eles foram marcados pelo cansaço e pela ansiedade. Te dava colo e peito sempre que você requisitava, o que me deixava literalmente exausta e sem tempo até para lavar a cabeça. Todos os planos de criar rotinas em seus primeiros meses foram por água abaixo me deixando com a sensação de que você nos dominara completamente e de que talvez não estivéssemos prontos para sermos pais.

O aprendizado que se seguiu a partir destes desafios foi enorme, e hoje eu enxergo a maternidade com um pouco mais de leveza do que  enxergava dois anos atrás. Nossa família está longe da perfeição. Como casal, seu pai e eu temos muito o que aprender. Como pais, nem se fala.

Mas hoje enxergo a vida de forma menos romantizada. Agora sei que é preciso esperar que as coisas sejam difíceis, e receber tudo o que se dá de forma tranquila como refrigério de Deus. As agruras da maternidade são muitas e aprender a ser mãe é extremamente doloroso. As renúncias são enormes, o cansaço físico, que é grande ao fim de cada dia, não se compara ao cansaço emocional decorrente desta responsabilidade. As crises relativas aos papéis que desempenho como mãe, esposa, profissional, dona de casa e mulher, são constantes e vira e mexe bate aquele desespero e medo de não conseguir dar conta de tudo o que me propus a fazer.

A parte boa disso é abaixar as expectativas, enxergar as pessoas com mais realismo, inclusive a mim. E a partir daí fica mais fácil se abrir para a Graça de Deus e dar lugar à gratidão.

E nesta carta que lhe escrevo para registrar seu aniversário de 2 anos, eu expresso minha gratidão à Deus pela sua vida e pelas maravilhas que Ele opera nas nossas vidas através da sua existência. E, apesar de saber que eu tive um papel bem limitado no seu desenvolvimento físico e intelectual, me encho de orgulho a cada vez que você pronuncia uma palavra nova, leva a colher à boca sem ajuda ou segura sozinho seu copo d’água.

2 anos é um tempo relativamente curto para nós, adultos. Mal dá para concluir um mestrado, se preparar bem para um concurso, chegar à metade de um curso de graduação... Mas pra você, filho, representa toda a extensão da sua vida.

E como foram grandes as suas conquistas nestes dois anos! De um bebê inerte, que mal segurava a própria cabeça, você se transformou neste menino dinâmico que corre, pula, sobe em tudo o que consegue alcançar, conta até 5, reconhece algumas cores, cantarola sozinho trechos de canções e até elabora e articula verbalmente sentimentos como: medo, angústia, felicidade e empolgação. Nem vou tentar reproduzir aqui seu vocabulário porque ele está “enoooorme”.

Destaco apenas algumas das suas palavras e frases mais faladas: “bigadu”, “enoooorme”, “tenho medo” , “ajuda, mamãe/ ajuda, papai”, a inusitada “ajuda, igreja”,  "brinca, papai", "tchau, mamãe, té manhã", "brilha, Jesus", “tá quente”, “tá gelado”, “tá pertado”, “vem, mamãe”, “veeem vovó”, “papai tá trabalhando”, “qué sisti urso polar”, “qué não”, “que legal, divertido!”, "segura, peão" e a clássica: “dá licença, mamãe” (quando quer privacidade para fazer cocô, quando tenta fazer alguma coisa proibida ou brincar sozinho com seu pai e eu tento entrar no meio).  Sua avó costuma dizer: "Vovó te ama, promete que não esquece?". Ao que você responde: "trumpete".

Mas a frase campeã do momento é: “Que isso?”.

Tudo desperta a sua curiosidade e quando lhe respondemos uma palavra fácil de repetir, você repete com muita satisfação. Sexta seu pai te levou à feira como ele faz todas as semanas. Mas desta vez você passou todo o tempo perguntando “o que é isso?” ao se deparar com pessoas, barracas, legumes, frutas, árvores e lugares. E a cada vez que ele lhe respondia: maçã, laranja, estacionamento, barraca, etc, você repetia com grande entusiasmo.

Você é apaixonado por bichos e conhece vários deles pelo nome: cachorro, gato, girafa, elefante, lobo, urso polar, hipopótamo, gatinho, leão, tigre, dinossauro,  porquinho, peixe, tubarão, tucano, arara, gavião, sapinho, patinho, golfinho (mais conhecido como tufinho) e cavalos, que são os seus favoritos!

A nova moda é se referir à você na terceira pessoa. Às vezes você fala: “o Pedrinho fez isso” ou “isso é do Pedrinho.” E desde que sua bisavó falou que você ainda é bebê você começou a se referir à você mesmo como “o bebê”. Se começa a tossir diz: “O bebê ta tossindo”. Se faz uma bagunça na sala e alguém lhe pergunta quem fez isso você responde: “o bebê”.

Você tem uma personalidade forte e eu diria que até um pouco obstinada. Os acessos de raiva e birras já se tornaram constantes no nosso dia à dia. Muitas vezes é preciso falar bem duro com você, mas em outras, basta um abraço carinhoso pra que você se acalme e recobre o bom humor que é sua marca registrada J

Seu sorriso gostoso nos acompanha desde às seis da manhã, quando você levanta da sua cama e vai até a nossa acordar o seu pai para brincar. E na hora em que te colocamos pra dormir, é com sorrisos e chamegos gostosos que você finalmente adormece.

Você presenteia seus amados com muitos abraços, sorrisos e beijos. E a forma que tem encontrado para demonstrar predileção por alguém nestes dias é chamando a pessoa para se sentar ao seu lado no chão e brincar, ao mesmo tempo em que pede pra que eu te deixe a sós com a pessoa dizendo: “dá licença, mamãe!”. O medo de outras crianças ainda não cedeu completamente, mas quando você se encanta por alguma, é difícil se despedir.  

Seus avós – maternos e paternos – ocupam um espaço “enoooorme” no seu coração. E seus bisavós também são motivo de muita alegria na sua vida. Comemoramos seu aniversário no sábado na casa da bisa e foi muito gratificante perceber o quanto este foi um dia alegre pra você. O empenho que seus bisavós e tio-avô Roberto tiveram para deixar a casa decorada para sua festinha foi comovente. Eles abriram seus corações e vidas completamente pra você, filho. E graças a Deus você vem retribuindo tamanho afeto com muito amor e carinho.

Minha oração de hoje é pra que você sempre coloque as pessoas em primeiro lugar. Que seu coração seja quebrantado e que desde pequeno você seja cheio do Espírito Santo. Que você se veja como meio, e não fim na vida das pessoas. E que, por meio da sua vida, muitas outras sejam abençoadas e edificadas. Que você seja generoso, amoroso, solidário e carinhoso. Que não tenha medo de demonstrar afeto e que também não tenha medo de demonstrar tristeza. Que o amor seja a base da sua identidade pra que você nunca sinta que tem que fazer ou conquistar algo para ser amado. Que você seja livre para se desenvolver plenamente, mas que conheça desde cedo o caminho do bem e se abstenha do caminho do mal. E que você caminhe com fé, amor e esperança pela jornada desta vida que acabou de começar, mas que já trouxe tanta alegria para nós que temos o privilégio de caminhar ao seu lado. 

Te amo.